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O que define quem vai ser Auditor(a)-Fiscal do Trabalho?

Atualizado: 23 de jun. de 2023

Quais atributos da personalidade são fundamentais para que alguém se destaque no concurso, consiga alcançar a vitória naquilo que se propõe e seja feliz no trabalho como fiscal?


Mosaico com imagens públicas, extraídas da internet pelo site google.com.br. Chave de pesquisa: 'concurso auditor fiscal do trabalho'


A autorização para a realização do concurso público para preencher 900 vagas para o cargo de Auditor-Fiscal do Trabalho (AFT) agitou o segmento de cursos preparatórios. A notícia está em todos os sites especializados, em blogs, YouTube e sites noticiosos.


Conforme o documento, publicado na última sexta-feira (16) em edição extra do Diário Oficial da União, o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) tem até seis meses para publicar o edital do seu concurso, portanto, até 13/12/2023.


O concurso para AFT restringe a candidatura a interessados com nível superior em qualquer área, e conta com remuneração inicial de R$21.487 (valor referente a 2019).


Ocorre, no entanto, que os cursinhos e dezenas de Auditores-Fiscais do Trabalho têm realizado ou participado de lives na internet sem dizer o que importa à instituição e aos futuros Auditores: a quem se destina o concurso?


Para muitos Auditores, há um misto de alegria pela chegada dos novos colegas, mas também de preocupação. Isso, porque muitos Auditores estão adoecendo devido a não possuírem perfil para exercerem a atividade.


Não obstante todos os problemas internos do órgão, pessoas sem nenhum perfil para Auditoria adoecem por fazer o que não querem. Não conseguem se identificar com a atividade, e o concurso é uma ferramenta importante para a resposta à pergunta acima.


As ações fiscais, prioritariamente, são dirigidas, com deslocamento para o local de prestação da atividade laboral, requerendo do AFT entrevista com trabalhadores e gestores das empresas, vistoria dos ambientes de trabalho e, em casos de constatação de irregularidades, aplicar plenamente as prerrogativas institucionais, tais como: paralisação total ou parcial do trabalho em condições de risco grave e iminente à saúde e segurança do trabalhador; lavratura de Autos de Infração; Lavratura de Notificações de Débito de FGTS; emissão de Termo de Afastamento de Trabalho Infantil; Notificação para Providências Imediatas em caso de resgate de trabalhadores; elaboração de Relatório Circunstanciado; dentre outras.


Importante destacar que, pela dinâmica do mundo do trabalho, em que o momento da prestação laboral muitas vezes não coincide com a jornada administrativa de trabalho e nem com localidades em centros urbanos (como exemplo situações de grave e iminente risco, acidentes de trabalho e trabalhadores em condições análogas à escravidão), é característico das atividades de fiscalização deslocamentos terrestres, trabalhos iniciados em horários não convencionais, fiscalização em finais de semana e atendimentos imediatos a demandas urgentes e prioritárias.


Em dissonância com esta realidade, atualmente há vários Auditores afastados da atividade plena, com determinação de cumprirem somente fiscalizações indiretas.


Isso prejudica a efetividade da missão de proteção social da instituição, a atividade dos colegas que permanecem de modo pleno inspecionando estabelecimentos presencialmente, e consequentemente gera repercussão negativa para toda a sociedade.


O cargo de AFT, que parece a mina de ouro dos cursinhos, de Youtubers, e o sonho dos concurseiros que visam boa remuneração, por se tratar de uma atividade complexa, pode se tornar fonte de sofrimento para quem não possui afinidade com a atividade de fiscalização do trabalho.


REALIZAÇÃO PROFISSIONAL


Segundo Oliveira Silva (2015), a realização profissional envolve o esforço despendido pelo indivíduo para viver de acordo com as metas de carreira que estabeleceu para si.


Assim, o conceito de realização profissional se refere à percepção, do próprio indivíduo, de que alcançou suas metas de carreira ou de que está no caminho certo para alcançá-las (Oliveira Silva, 2015).


Tal realização não é considerada como um processo estático, mas, sim, dinâmico. Os valores e as metas das pessoas podem mudar e, consequentemente, pode mudar tanto a forma como elas perseguem esses objetivos quanto o significado de realização profissional para elas (Oliveira Silva, 2015).


Maslach, Schaufeli e Leiter (2001), ao conceituarem a síndrome de burnout, mencionam a questão da realização no trabalho, indicando que a percepção de que não se está pessoalmente realizado no trabalho representa um dos indicadores de burnout.


Para Maslach et al. (2001) o burnout ocorre quando o profissional frequentemente tem sentimentos concentrados de ausência de realização, equivalente à tendência a se autoavaliar de forma negativa, sentir-se infeliz consigo mesmo e insatisfeito com seu desenvolvimento profissional.


Nei Alexandre, Auditor-Fiscal do Trabalho, relata que já realizou inspeções de ambientes de trabalho enquanto atuava em dupla com colega em remissão da síndrome de burnout.


Segundo o Auditor:


"É muito triste entrar em uma empresa e preocupar-se também com a saúde do seu próprio colega. Nós conversamos antes da ação, mas quando a ansiedade do colega vem, não tem jeito. O estresse não manda recado. O medo surge, o coração acelera. A gente olha para o colega, se preocupa, mas não pode fazer muito. Nossa atividade tem uma tensão que é natural do cargo".


O Auditor-Fiscal Filipe Colares, por sua vez, relata caso vivido por ele ao tentar inspecionar o ambiente laboral de um estabelecimento:


"Nós fomos retidos dentro do subsolo de uma empresa mesmo após nos identificarmos com as credenciais funcionais. Pelo telefone entregue por preposto do empregador, este nos informava que desconhecia dispositivo legal diferente de ordem de juiz que lhe fizesse franquear nosso acesso ao seu estabelecimento, que só poderíamos ser bandidos tentando invadir a propriedade dele, e que portanto havia solicitado à polícia militar que nos retivesse nos subsolo até que ele chegasse à sua propriedade".


Ambos os fiscais relatam que a atividade, no entanto, é prazerosa.


Eles se veem com o perfil certo para o trabalho certo. Segundo Nei:


"É o melhor trabalho do mundo! Eu sei que muitos colegas não se sentem assim, mas servir ao público, levar dignidade a quem trabalha, proteger as pessoas de acidentes ou doenças, é algo que me alimenta no dia a dia. Me faz bem".


Filipe, concorda:


"Sem vocação, não se tem realização pessoal, nem profissional. A sociedade conta conosco e sou feliz de poder contribuir com ela. Algum enfrentamento, situações inusitadas, perrengues, isso é uma característica da atividade."


Por ser um conceito relativamente novo no cenário nacional, ainda não há muitos estudos voltados para a investigação da realização profissional (Oliveira Silva, 2015), sendo ainda pouco estudada na Administração tanto no âmbito nacional quanto no internacional.


Apesar da escassez de pesquisas, Oliveira Silva (2015) encontrou evidências de que a realização profissional se relaciona significativamente com o bem-estar subjetivo e o florescimento na atividade.


Ou seja, quanto mais as pessoas percebem alcançar aquilo que valorizam, e demonstram uma avaliação positiva do progresso em relação à meta profissional, mais experimentam o bem-estar na vida em geral e mais florescem no trabalho.


SIGNIFICADO E CENTRALIDADE DO TRABALHO


Qualquer trabalho se mostra importante na medida em que é o meio da produção da vida de cada um, provendo a subsistência, criando sentidos existenciais ou contribuindo para a estruturação da personalidade e da identidade (Borges & Tamayo, 2001).


O significado que uma pessoa atribui ao trabalho parte de uma estrutura cognitiva que impacta as percepções, avaliações, atribuições, e o próprio comportamento do indivíduo em suas atividades laborais (Bastos, Pinho, & Costa, 1995).


Uma das definições mais clássicas sobre o tema é a de Morin (2004), sugerindo que o “significado do trabalho” pode ser definido como o significado que o sujeito atribui ao trabalho que exerce, como o que o trabalho representa para ele, e a importância que este tem em sua vida.


Que este concurso seja muito importante na vida de todos aqueles que estão estudando, que queiram contribuir para o desenvolvimento de boas práticas organizacionais, e que possam promover a materialização da dignidade dos trabalhadores a partir da atividade da Auditoria Fiscal do Trabalho.


Bons estudos a todos os vocacionados!


Instituto Trabalho Digno



Referências:


Bastos, A. V. B., Pinho, A. P. M, & Costa, C. A. (1995). Significado do trabalho: Um estudo entre trabalhadores inseridos em organizações formais. Revista de Administração de Empresas, 35(6), 20–29. doi:10.1590/S0034-759019 95000600004


Borges, L. O., & Tamayo, A. (2001). A estrutura cognitiva do significado do trabalho. Revista Psicologia Organizações e Trabalho, 1(2), 11-44. Retirado de http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rpot/v1n2/v1n2a02.pdf


Maslach, C.; Schaufeli, W.B. & Leiter, M. P. (2001). Job burnout. Annual Review Psychology, 52, 397-422.


Morin, E. (2004, August). Meaning of work in modern times. World Congress on Human Resources Management, Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 10


Oliveira Silva, L. C. (2015). The importance of achieving what you value: A career goal framework of professional fulfillment. Tese de doutorado, Universidade de Brasília, Brasília, DF, Brasil.

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